A arte brasileira que se desenvolveu a partir do período da colonização começa com a arquitetura de traços barrocos. Com a invasão dos colonizadores europeus, e com as construções das primeiras igrejas feitas de taipas ou terra batida, surge o primeiro estilo de arte no Brasil, com uma concepção de arquitetura muito diferente da renascentista europeia.
Dessas precárias construções surgiram as de pedra e cal cobertas de telhas, algumas já assobradadas. Então, o papel da igreja foi determinante na política, na arte e na cultura brasileira nesse período.
Para entender esse estilo, vamos recordar o seu surgimento na Europa: No século XVII, na Itália, uma série de mudanças econômicas, religiosas e, principalmente, devido à Reforma, o poder da Igreja católica é enfraquecido e para colocar novamente em ascensão o Catolicismo e a fé, foi criado um estilo artístico chamado de Barroco, palavra de origem espanhola (barrueco) que significa “pérola de formato irregular”. Essa denominação, a princípio um apelido pejorativo, foi dada para uma arte produzida entre os séculos XVII e XVIII por expressar um processo tortuoso, confuso de pensamento, encarado por alguns de mau gosto e sem seguir padrões. Assim, só foi valorizado por volta de 1850, e atualmente, é estudado sob outro prisma. Sua revalorização procura trazer à tona o seu potencial como arte criadora e original. Hoje as construções barrocas, nesse novo contexto, são consideradas de inestimável valor artístico.
A igreja católica, para reconquistar seu prestígio e poder, organizou sua Contrarreforma, tomando iniciativas que visavam reafirmar e difundir sua doutrina. E é, na construção e decoração de igrejas, que surge a arte barroca. Para esse fim, arquitetos, escultores e pintores foram convocados para transformar as igrejas em espaços para exibições artísticas de grande esplendor, com o propósito de converter o povo ao Catolicismo.
Os traços marcantes desta arte se manifestam principalmente em construções de igrejas, conventos, alguns edifícios públicos, residências dos ricos e poderosos, nas praças e jardins públicos e nas figuras idealizadas que representam os personagens bíblicos e históricos, demonstrando expressões de dor, tristeza e alegria com uma liberdade que contrariava os modelos clássicos.
Fachada da Igreja de São Francisco em Salvador - Bahia |
Interior da Igreja de São Francisco, Salvador - Bahia |
- No primeiro, as igrejas são mais requintadas e têm na decoração trabalhos em relevo feitos em madeira, talhas recoberta de ouro, com janelas, portas decoradas ricamente e detalhadas com esculturas. Esse estilo se desenvolveu nos estados mais ricos da época, como: Minas Gerais, Rio de Janeiro Salvador, Bahia, Pernambuco e Paraíba, por causa da mineração e do cultivo da cana de açúcar.
- No segundo, a arquitetura é mais modesta sendo encontrada nas cidades mais pobres, pois não eram privilegiadas com a mineração e o comércio do açúcar, como São Paulo, que foi prejudicada pelas Bandeiras, que eram expedições particulares organizadas por paulistas, com o objetivo de capturar índios e encontrar ouro. Devido a esse fato, vários vilarejos foram criados nas proximidades de Minas Gerais retardando assim, o crescimento da cidade paulista por mais de um século. Apesar da miséria dessa cidade, foram construídas igrejas com estilos remanescentes como a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, que no século XVIII foi reformada, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e São Miguel, a Igreja de Nossa Senhora da Luz (foto), que representa a simplicidade do barroco paulista. Desse período destaca-se Frei Jesuíno do Monte Carmelo (1764-1818), que aprendeu a pintar sozinho e não dominava o equilíbrio e a perspectiva, como podemos observar nas pinturas da Igreja do Carmo, na cidade de Itu – SP.
MosteiroNossa Senhora da Luz, São Paulo, iniciada em 1600 e concluída por volta de 1770. |
A capital do Brasil nos primeiros anos do século XVIII era Salvador, por ser a mais rica metrópole na época e o maior centro econômico do país. A cidade recebia os comerciantes portugueses e com eles os hábitos e costumes de Portugal trazidos pelos artistas e produtores estrangeiros, motivo pelo qual, são encontradas igrejas riquíssimas como a Igreja e o Convento de São Francisco de Assis, em Salvador. Considerada a igreja mais rica do Brasil, é o maior símbolo da arquitetura barroca, sua fachada foi construída com o frontão de linhas curvas, o interior é decorado com colunas, ornamentos e paredes douradas, que exibem a talha mais encaracolada do estilo rococó.
Teto da Capela-Mor da Igreja do Carmo em Itu – SP, Pintura de Frei Jesuíno do Monte Carmelo. |
Com o governo do Marquês de Pombal de 1750 a 1777, que tinha como principal objetivo libertar Portugal do domínio inglês, muitas mudanças aconteceram no Brasil visando combater os privilégios jurídicos dos nobres e a intolerância religiosa. Uma dessas mudanças foi a criação das Companhias de Comércio que tinham como finalidade principal, enfraquecer o poder dos jesuítas e, consequentemente, pôr fim na escravidão indígena. Em 1759, foi criada a Companhia de Pernambuco e Paraíba, empresa responsável pela produção e comercialização de açúcar, tabaco, algodão e madeira, provocando o desenvolvimento econômico das cidades de Recife e João Pessoa. Nesse período, a arquitetura barroca brasileira também teve um grande desenvolvimento com a construção de igrejas conservadas até hoje, como a Igreja de São Pedro dos Cléricos, em João Pessoa, caracterizada principalmente pela portada barroca e os altares trabalhados em pedra. O teto foi pintado pelo maior representante do barroco pernambucano do século XVIII, chamado João de Deus Sepúvida. Podemos destacar ainda em João Pessoa, o Convento Franciscano de Santo Antonio, formado pela igreja, o convento e a Capela da Ordem Terceira, que tem como ponto surpreendente os efeitos de ilusão de ótica.
Com a extração do ouro em Minas Gerais, o Rio de Janeiro transforma-se no centro de intercâmbio entre Portugal e Minas Gerais por causa do seu porto de navegação, vindo a tornar-se a nova capital do país em 1763. Isso ocasionou um grande desenvolvimento econômico que veio se refletir na arquitetura com a construção da igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, localizada no Largo da Carioca, que tem seu interior ricamente decorado com talha dourada realizada por dois escultores portugueses: Manoel de Brito e Francisco Xavier de Brito. Outra obra arquitetônica desse período é a igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, projetada pelo engenheiro militar José Cardoso Ramalho, sendo uma das primeiras igrejas barrocas brasileiras a possuir uma nave poligonal com ausência de talha dourada, conseguindo atingir uma harmonia na combinação das paredes brancas decoradas com pilastras de pedra. Além da arquitetura, o Rio de Janeiro no século XVIII teve o privilégio de ser agraciado por um dos maiores escultores brasileiros: Valentim da Fonseca e Silva (1750-1818), conhecido como “Mestre Valentim”. Dentre seus trabalhos, está a estátua do Caçador Narciso, que se encontra no Jardim Botânico; os Jacarés; a Ninfa Ego; as estátuas em cedro de São Marcos e São Evangelista que, atualmente, se encontram no Museu Histórico Nacional, além de ter criado o primeiro projeto de reforma urbana da cidade do Rio de Janeiro.
Com a extração do ouro em Minas Gerais, o Rio de Janeiro transforma-se no centro de intercâmbio entre Portugal e Minas Gerais por causa do seu porto de navegação, vindo a tornar-se a nova capital do país em 1763. Isso ocasionou um grande desenvolvimento econômico que veio se refletir na arquitetura com a construção da igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, localizada no Largo da Carioca, que tem seu interior ricamente decorado com talha dourada realizada por dois escultores portugueses: Manoel de Brito e Francisco Xavier de Brito. Outra obra arquitetônica desse período é a igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, projetada pelo engenheiro militar José Cardoso Ramalho, sendo uma das primeiras igrejas barrocas brasileiras a possuir uma nave poligonal com ausência de talha dourada, conseguindo atingir uma harmonia na combinação das paredes brancas decoradas com pilastras de pedra. Além da arquitetura, o Rio de Janeiro no século XVIII teve o privilégio de ser agraciado por um dos maiores escultores brasileiros: Valentim da Fonseca e Silva (1750-1818), conhecido como “Mestre Valentim”. Dentre seus trabalhos, está a estátua do Caçador Narciso, que se encontra no Jardim Botânico; os Jacarés; a Ninfa Ego; as estátuas em cedro de São Marcos e São Evangelista que, atualmente, se encontram no Museu Histórico Nacional, além de ter criado o primeiro projeto de reforma urbana da cidade do Rio de Janeiro.
O Caçador Narciso, Mestre Valentim, Jardim Botânico. Rio de Janeiro. |
O principal centro de desenvolvimento da arte barroca no Brasil foi Minas Gerais, favorecida pela riqueza proveniente do chamado “ciclo do ouro” que custeava as construções e decorações de igrejas juntamente com as “bandeiras” e diferentes tropas que lá se fixaram. O Barroco de Minas Gerais foi o que menos sofreu influências do barrroco português, considerado um estilo arquitetônico verdadeiramente brasileiro, possuindo um caráter mais livre, apresentando em suas decorações retábulos de madeira clara em tom pastel, inseridos em painéis lisos para garantir o destaque. Os artistas que mais se destacaram foram: Antônio Francisco Lisboa, o “Aleijadinho” e Manuel da Costa Ataíde.
Adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinho, Os 12 Profetas, de Aleijadinho. |
- Antônio Francisco Lisboa, “o Aleijadinho” (1730 ou 38 - 1814), foi o maior artista plástico religioso do Brasil colonial. Nasceu na antiga Vila Rica, atual Outro Preto, outrora capital da opulenta província das Minas Gerais. Um dos aspectos mais marcante de suas obras é o ecletismo, ou seja, elas reúnem características de vários estilos como o barroco, o gótico, acentos expressionistas, resquícios renascentistas e vestígios do rococó. Dentre o conjunto de esculturas, podemos destacar “Os doze profetas”, esculpidos em pedra-sabão. Estas se encontram distribuídas em frente à igreja de Santo Agostinho, localizada na cidade de Congonhas do Campo, no santuário de Bom Jesus de Matosinhos. Distribuídas em posições diferentes, dando ao observador a idéia de movimento. É também de Aleijadinho o conjunto estatuário Os Passos da Paixão que conta a história da paixão de Cristo todas em tamanho natural, localizados também em Congonhas do Campo.
Outras obras foram o Chafariz do Padre Faria, em Ouro Preto, esta foi sua primeira obra, a Imagem do Cristo Flagelado que se encontra no Museu Inconfidência de Ouro Preto, a igreja de São Francisco de Assis, também em Ouro Preto, considerada a obra-prima de Aleijadinho no campo arquitetônico, onde a portada é decorada com anjos e fitas esculpidos em pedra-sabão; Atlantes do Coro, obra realizada para a igreja de Nossa Senhora de Sabará, com detalhe na porta feitos também em pedra-sabão; São Jorge, imagem em tamanho natural; São Joaquim e o Profeta Daniel.
- Manuel da Costa Ataíde (1762-1830) nasceu em Mariana – MG, foi o maior pintor do barroco brasileiro, suas pinturas tanto em telas quanto em tetos de igrejas, destacam-se pelo domínio total da técnica da perspectiva e do uso de tons vermelhos. O maior exemplo é o teto da nave da igreja de São Francisco em Ouro Preto, onde o artista superou-se quando sugeriu que o teto se abrisse para o céu e que Maria, uma mulher morena, cercada de anjos acolhe os fiéis. Pintou também os tetos para as igrejas de Santo Antônio em Santa Bárbara; igreja da Ordem Terceira de São Francisco em Ouro Preto e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Mariana.
A Missão Artística Francesa não tomou conhecimento da obra de Aleijadinho, ignorando o barroco no Brasil e, particularmente, em Minas Gerais. Só em meados do século XX, quando impulsionados pelo Movimento Modernista, é que renasceu o interesse pelo barroco, sendo inaugurado o Museu do Aleijadinho na sua cidade natal, integrando-se o mestre à história universal das artes.
Os doze profetas, Aleijadinho (detalhe) |
Outras obras foram o Chafariz do Padre Faria, em Ouro Preto, esta foi sua primeira obra, a Imagem do Cristo Flagelado que se encontra no Museu Inconfidência de Ouro Preto, a igreja de São Francisco de Assis, também em Ouro Preto, considerada a obra-prima de Aleijadinho no campo arquitetônico, onde a portada é decorada com anjos e fitas esculpidos em pedra-sabão; Atlantes do Coro, obra realizada para a igreja de Nossa Senhora de Sabará, com detalhe na porta feitos também em pedra-sabão; São Jorge, imagem em tamanho natural; São Joaquim e o Profeta Daniel.
- Manuel da Costa Ataíde (1762-1830) nasceu em Mariana – MG, foi o maior pintor do barroco brasileiro, suas pinturas tanto em telas quanto em tetos de igrejas, destacam-se pelo domínio total da técnica da perspectiva e do uso de tons vermelhos. O maior exemplo é o teto da nave da igreja de São Francisco em Ouro Preto, onde o artista superou-se quando sugeriu que o teto se abrisse para o céu e que Maria, uma mulher morena, cercada de anjos acolhe os fiéis. Pintou também os tetos para as igrejas de Santo Antônio em Santa Bárbara; igreja da Ordem Terceira de São Francisco em Ouro Preto e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Mariana.
Pintura do teto da Igreja de São Francisco de Assis, feita por Manoel da Costa Ataíde, em Ouro Preto, MG. |
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