sábado, 6 de setembro de 2014

A Missão Artística Francesa no Brasil

Na França, Napoleão Bonaparte decretou o Bloqueio Continental (que proibia a compra e venda dos produtos europeus pelos ingleses, deixando Portugal em uma difícil situação), por esse motivo, Dom João VI teve que viajar as pressas para o Brasil antes que as tropas napoleônicas invadissem Portugal. Dom João VI e sua comitiva chegaram ao Brasil em 1808, aportando primeiramente em Salvador – BA, que estava com seu porto abarrotado de navios carregados de mercadorias, como: fumo, açúcar e outros produtos da colônia, sendo deteriorados, e dessa forma os navios não poderiam atracar nos portos de Lisboa, que se encontravam ocupados pelos franceses, motivo pelo qual, Dom João VI resolveu abrir os portos brasileiros às nações amigas. Essa abertura foi o que proporcionou a entrada de artistas no país. No mesmo ano, Dom João VI chega ao Rio de Janeiro, a cidade necessitava de melhorias, pois seria a nova sede do império português. Muitas medidas foram tomadas para conquistar a simpatia dos ricos: foram distribuídos vários títulos de nobreza, liberação e instalação de indústrias, criação do Banco do Brasil, fundação de escolas de medicina, Biblioteca, Im­prensa Régia, estradas, o arsenal da marinha, incentivou a produção de ferro e a construção de manufaturas siderúrgicas.
Morro de Santo Antonio, de  Nicolas Antoine Taunay, 1816.


O príncipe regente dom João VI, preocupado com a educação de sua família, importou da Europa artistas e artesãos capazes de ensinar as Belas-Artes conforme a moda europeia. Por iniciativa do Conde da Barca, Ministro dos Assuntos Estrangeiros do rei, e apoio do Marquês de Marialva, embaixador de Portugal, junto à corte de Luís XVIII, chegou ao Brasil em 1816, oito anos após a chegada da família real, a Missão Artística Francesa foi constituída por artistas que foram exilados da França. Desse grupo faziam parte:

  • Joachin Le Breton - crítico e historiador de arte, chefiou a missão; 
  • Grandjean de Mon­tigny - arquiteto, primeiro reitor da Academia de Belas Artes; 
  • Nicolas Antoine Taunay - pintor de paisagens; 
  • Auguste Marie Taunay - escultor (irmão de Nicolas Taunay); 
  • Jean-Baptiste Debret - pintor de fatos históricos, considerado "a alma da Missão"; 
  • Charles Simon Pradier - gravador (gravurista).


Ainda faziam parte desse grupo um professor de mecânica e muitos auxiliares como: serralheiros, ferreiros construtores navais, carpinteiros, fabricante de carros e outros práticos de vários ofícios.

No início, os integrantes da Missão foram hostilizados pelos artistas brasileiros, por imporem um modelo de ensino acadêmico europeu diferente da realidade brasileira, esse fato gerou grande polêmica, retardando por dez anos a inauguração da Real Academia de Pintura, Escultura e Arquitetura, hoje, Escola Nacional de Belas-Artes. Com a chegada da Missão, houve uma re­novação no plano cultural, principalmente com a introdução do estilo Neoclás­sico[1], que buscava abandonar os exageros do barroco e os excessos ornamentais do Rococó[2], ignorando a fé e a religião. Evidentemente que o neoclassicismo apresenta princípios fixos, regras específicas para a criação artística, produzindo obras como modelo que aspiravam alcançar um valor de universalidade. É tam­bém conhecido como academicismo, porque os princípios estéticos se baseavam na restauração das formas do classicismo greco-romano, adotados pelas acade­mias oficiais da Europa, tendo vigorado no Brasil até o início do século XX, quando aconteceu a Semana de Arte Moderna.
Dentre os artistas da Missão Artística Francesa os que mais se destacaram foram:
- Nicolas Antoine Taunay (1755-1830) foi o grande pintor da Missão e um profundo admirador das paisagens cariocas, participou de várias exposições na Europa, onde era o preferido na França por Napoleão. No Rio de Janeiro, construiu sua casa afastada do centro da cidade para ficar mais perto da natureza, que o inspirava demasiadamente, como podemos observar nas telas intituladas Largo da Carioca e Morro de Santo Antonio, ou ainda em alguns retratos da família real.
Cena de Carnaval (entrudo). Debret, Litografia, 1823. 

- Jean-Baptiste Debret (1768-1848) artista premiado na Europa, veio para o Brasil, onde realizou uma obra em três volumes chamada: Viagem Pito­resca Histórica do Brasil, com 156 desenhos mostrando a vida rural, os índios e costumes brasileiros. Fez ainda desenhos da flora brasileira, de escravos e de índios, também foi professor de pintura da academia, onde realizou em 1829 a primeira exposição de arte no Brasil, sendo, portanto o artista da Missão que mais se afastou dos temas neoclássicos.


Retrato de Grandjean de Montigny. Augusto Müller.

- Grandjean de Montigny (1772-1850) arquiteto, foi responsável pela construção do prédio da Real Academia de Pintura e Arquitetura, hoje Escola Nacional de Belas-Artes, inaugurada em 1826 e moldada no ensinamento ministrado pela E’cole Del Beaux-Artes de Paris. A academia adquiriu bases definitivas através da regularização dos cursos, criação das exposições gerais de Belas-Artes, organização da Pinacoteca[3], instituição de prêmios e viagens ao estrangeiro para os melhores alunos, para aperfeiçoamento do academismo, o que impedia os artistas brasileiros de conhecerem novas tendências. Montigny criou bases neoclássicas fortes na arquitetura brasileira, abandonando os traços do rococó e do barroco. São de sua autoria, os projetos do Mercado da Candelária, Praça do Comércio do Rio de Janeiro e o projeto de sua casa lo­calizada na Gávea, hoje faz parte da PUC, no Rio de Janeiro.
Depois de inaugurada a Academia e Escola de Belas-Artes, gradativa­mente os artistas estrangeiros foram sendo substituídos por seus discípulos luso-brasileiros.





[1] Estilo que tinha como objetivo alcançar a perfeição da forma, predominando a razão e a ciência, ignorando a fé e a religião.
[2] Estilo que predominou na Europa no século XVII, trazido para o Brasil pelos portugueses. É uma arte decorativa de interiores.
[3] Museu de arte mais antigo do país.

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