domingo, 24 de março de 2013

Escultura e suas técnicas

Neste post vou falar sobre um assunto que confunde muito a cabeça dos alunos: a escultura.
Para começar vamos esclarecer o conceito de escultura.

Escultura é uma linguagem artística expressa pela representação tridimensional, ou seja, em relevo total ou parcial. O objeto escultórico é, portanto, sólido, tridimensional e ocupa um espaço com altura, largura e profundidade.

Dessa forma teremos dois grandes grupos de escultura:
  • Estátuas (vulto redondo): aquelas que possuem volume completo e podem ser vistas em todos os seus ângulos.
  • Relevos: esculturas parciais, de caráter ornamental tendo como fundo uma superfície em que está aderida, geralmente complementando uma construção arquitetônica. Os relevos podem ser altos, médios e baixos, de acordo com o seu volume.
Exemplo de relevo: A partilha dos voluntários de 1792 ou Marselhesa Mármore. 1833. François Rude.
Detalhe dos relevos do Arco do Triunfo, Paris.
Exemplo de estátua: São José de Botas com o menino
Jesus. Sival Veloso, Concreto revestido de resina, 17m, 2003. São José de Ribmar - MA.
Portanto, esculpir é o ato de dar forma à matéria, qualquer tipo de matéria física palpável, destacando os valores táteis da mesma para transmitir certas sensações.


Origens

Desde os primórdios o homem teve a necessidade de esculpir. Já na Pré-História, segundo estudos de arqueólogos, historiadores e antropólogos, o homem primitivo executava em pedra, ossos e marfim formas femininas em miniaturas. Na Grécia Antiga esse tipo de arte chega a níveis de realismo e perfeição que são referências aos escultores até os dias atuais.

Técnicas de Escultura

Existem várias técnicas entre tradicionais e modernas de se fazer escultura. Entre elas as principais são:
  • Cinzelação ou entalhe
  • Modelagem 
  • Moldagem
  • Fundição
  • Aglomeração de partítulas ou montagem
A escultura pode ser feita de muitos materiais que variam em espessura, dureza, porosidade, tamanho. Com base nessas características, usa-se ferramentas e técnicas específicas.
Primeiramente o ser humano produzia escultura com os materiais mais simples que tinha à mão: barro, pedra, osso e madeira. Depois começou a utilizar metais como ferro, bronze, chumbo entre outros. Com o tempo, a escultura evoluiu no uso de novas técnicas e materiais, refletindo intenção criativa do artista e do período histórico em que se desenvolve. Atualmente se usa uma infinidade de materiais como cera, gesso, argila, resina de plástico e poliéster reforçado de fibra de vidro, betão, e até projeção de luz, entre outros.

Cinzelação ou entalhe

Processo da cinzelação
Técnica que consiste na desbastação do material (pedra, mármore, madeira) utilizando uma talhadeira ou cinzel (daí o nome) com a ajuda de um martelo a fim de dar forma à figura pretendida pelo artista.

Modelagem e moldagem

Jean-Baptiste Seckler trabalhando em escultura de Michael Jackson
em frente ao centro Pompidou, Paris. O material usado é a argila. Fonte: g1.globo.com
A modelagem consiste na utilização de material mais maleável, macio e flexível como a argila (barro), o gesso, o papel machê, a cera entre outros. Na verdade não se esculpe, no sentido original da palavra, se molda. Nesse processo, o artista dá forma à massa usando as próprias mãos, acrescentando volume à matéria enquanto que na cinzelação retira-se volume para se obter a forma desejada. Em ambos os casos o escultor ou modelador dá os retoques mais detalhados com outros instrumentos (cinzel, espátula, lixa etc). No caso da escultura com argila, esta é cozida para adquirir dureza e resistência.
Na modelagem, se o artista errar, arranca a matéria que colocou e trata de colocar outra. Na cinzelação, porém, se ele errar, todo o trabalho terá sido perdido.
A modelagem é, também, o primeiro passo para a confecção de esculturas através de outras técnicas, como a fundição e a moldagem.
Quer aprender a fazer esculturas modeladas com papel machê? Então clica aqui.

Fundição

Artista húngaro Erno Toth trabalhando no molde da cabeça
que comporá a escultura em bronze em homenagem a Steve Jobs.
Saiba mais clicando aqui.

A fundição é utilizada no processo de escultura em metal (bronze, ouro, ferro, prata, aço etc). Para isso é necessário que o metal entre em estado líquido através do superaquecimento, ou seja, o metal deve ser fundido. Assim é possível dar forma a esses materiais com ajuda de uma forma negativa (vazada) previamente moldada para esse fim a partir de um original feito com material mais barato.  A partir daí é confeccionado um molde de gesso que será, então, preenchido com cera, obtendo-se outra peça idêntica neste material, que poderá ser retocada, para corrigir algumas imperfeições derivadas do molde. A partir do modelo de cera, a escultura em metal será confeccionada através do método da cera perdida.  Veja mais detalhes aqui.

Aglomeração de partículas ou montagem


Resume-se na junção de diversas partículas (materiais como pedaços de metal, plástico, sucatas, vidro) que vão formar um objeto, neste caso, uma escultura.
Cão. Escultura em sucata de  Dario Tironi . 2010.


terça-feira, 19 de março de 2013

A Arte Renascentista

O termo Renascimento é comumente aplicado à civilização europeia que se desenvolveu entre os séculos XIV e XV, época das grandes navegações. Além de reviver a antiga cultura greco-romana, ocorreram nesse período muitos progressos e incontáveis realizações no campo das artes, da literatura e das ciências, que superaram a herança clássica.
Alguns autores dividem o período renascentista em quatro períodos, indo desde as suas primeiras aparições, paralelas ao estilo gótico do século XIII até o século XVI, a saber:
  • Duocento - 1200 a 1299 (séc. XIII)
  • Trecento – 1300 a 1399 (séc. XIV)
  • Quattrocento – 1400 a 1499 (séc. XV)
  • Quinquecento – 1500 a 1599 (séc. XVI)

O ideal do humanismo foi, sem dúvida, o móvel desse progresso e tornou-se o próprio espírito do Renascimento. Trata-se de uma volta deliberada, que propunha a ressurreição consciente (o re-nascimento) do passado, considerado agora como fonte de inspiração e modelo de civilização. Num sentido amplo, esse ideal pode ser entendido como a valorização do homem (Humanismo) e da natureza, em oposição ao divino e ao sobrenatural, conceitos que haviam impregnado a cultura da Idade Média.
São características gerais da arte renascentista:
  • racionalidade;
  • rigor científico;
  • dignidade do ser humano;
  • ideal humanista;
  • resgate e revalorização das artes greco-romanas.

Arquitetura

Na arquitetura renascentista, a ocupação do espaço pelo edifício baseia-se em relações matemáticas estabelecidas de tal forma que o observador possa compreender a lei que o organiza, de qualquer ponto em que se coloque. De acordo com Bruno Zevi, em seu livro Saber ver a arquitetura “Já não é o edifício que possui o homem, mas este que, aprendendo a lei simples do espaço, possui o segredo do edifício” (1989).

Principais características da arquitetura renascentista

  • Arcos de Volta-Perfeita.
  • Simplicidade na construção.
  • A escultura e a pintura se desprendem da arquitetura e passam a ser autônomas.
  • Construções; palácios, igrejas, vilas (casa de descanso fora da cidade), fortalezas (funções  militares)
Catedral Santa Maria del Fiore. Cúpula projetada por Filipo Brunelleschi,
Campanário por Giotto. Séc. VIII, Florença.

Filippo Brunelleschi (1377-1446) foi o principal arquiteto renascentista. É um exemplo de artista completo renascentista, pois foi pintor, escultor e arquiteto. Além de dominar conhecimentos de Matemática, Geometria e de ser grande conhecedor da poesia de Dante. Foi  como construtor, porém, que realizou seus mais importantes trabalhos, entre eles a cúpula da Catedral de Florença e a Capela Pazzi.

Pintura

Principais características da pintura renascentista
A Santíssima Trindade. Masaccio. Afresco,
667 cm × 317 cm, 1425, Santa Maria Novella, Florence.

  • Perspectiva: arte de figura, no desenho ou pintura, as diversas distâncias e proporções que têm entre si os objetos vistos à distância, segundo os princípios da matemática e da geometria.
  • Uso do chiaroscuro (claro-escuro): pintar algumas áreas iluminadas e outras na sombra, esse jogo de contrastes reforça a sugestão de volume dos corpos.
  • Realismo: o artista do Renascimento não vê mais o homem como simples observador do mundo que expressa a grandeza de Deus, mas como a expressão mais grandiosa do próprio Deus. E o mundo é pensado como uma realidade a ser compreendida cientificamente, e não apenas admirada.
  • Inicia-se o uso da tela e da tinta à óleo.
  • Tanto a pintura como a escultura que antes apareciam quase que exclusivamente como detalhes de obras arquitetônicas, tornam-se manifestações independentes.
  • Surgimento de artistas com um estilo pessoal, diferente dos demais, já que o período é marcado pelo ideal de liberdade e, consequentemente, pelo individualismo.

Principais pintores renascentistas na Itália

O Nascimento de Vênus. Sandro Botticelli. Têmpera sobre tela,
172.5 cm × 278.5 cm. 1483, Galleria degli Uffizi, Florença.
  • Sandro Botticelli (1444-1510) - os temas de seus quadros foram escolhidos segundo a possibilidade que lhe proporcionavam de expressar seu ideal de beleza. Para ele, a beleza estava associada ao ideal cristão. Por isso, as figuras humanas de seus quadros são belas porque manifestam a graça divina, e, ao mesmo tempo, melancólicas porque supõem que perderam esse dom de Deus. Obras destacadas: A Primavera e O Nascimento de Vênus. Veja mais obras desse pintor.
  • A virgem dos rochedos. Leonardo da Vinci.
    Óleo sobre madeira, 199cm cm × 122cm, 1486, Louvre, Paris.
    Leonardo da Vinci (1452-1519) - ele dominou com sabedoria um jogo expressivo de luz e sombra, gerador de uma atmosfera que parte da realidade, mas estimula a imaginação do observador. Foi possuidor de um espírito versátil que o tornou capaz de pesquisar e realizar trabalhos em diversos campos do conhecimento humano. Obras destacadas: A Virgem dos Rochedos e Monalisa.Veja mais pinturas desse artista.
  • Michelangelo Buonarroti (1475-1564) - entre 1508 e 1512 trabalhou na pintura do teto da Capela Sistina, no Vaticano. Para essa capela, concebeu e realizou grande número de cenas do Antigo Testamento. Dentre tantas que expressam a genialidade do artista, uma particularmente representativa é a Criação de Adão. Obras destacadas: Teto da Capela Sistina e a Sagrada Família. Veja mais pinturas desse artista.

A criação de Adão. Michelangelo Buonarroti. Afresco, 280 cm x 570 cm, detalhe. 1511, Capela Sistina, Vaticano.
  • Rafael Sanzio (1483-1520) - suas obras comunicam ao observador um sentimento de ordem e segurança, pois os elementos que compõem seus quadros são dispostos em espaços amplo, claros e de acordo com uma simetria equilibrada. Foi considerado grande pintor de “madonas”. Obras destacadas: A Escola de Atenas e Madona da Manhã. Veja mais pinturas desse artista.
A escola de Atenas. Rafael Sanzio. Afresco, 500 cm × 700 cm, 1506-10. Palácio Apostólico, Vaticano.

domingo, 17 de março de 2013

A Arte Gótica

No século XII, entre os anos 1150 e 1500, tem início na Europa uma economia fundamentada no comércio. Isso faz com que o centro da vida social se desloque do campo para a cidade e apareça a burguesia urbana.
Neste contexto, desenvolve-se uma arte, também voltada para o espírito religioso cristão. Esse estilo desenvolveu-se principalmente na França e é identificado como a Arte das Catedrais ou Arte Ogival.
A origem do termo "gótico" é relacionada aos Godos, que foi escolhido pejorativamente pelos italianos renascentistas, fazendo uma referência ao povo bárbaro de origem germânica que invadiu o Império Romano e causou grandes destruições. Porém, antes de sua designação como Gótico, o estilo era conhecido como arte francesa.


Arquitetura

Catedral de Notre-Dame. Paris.

No começo do século XII, a arquitetura predominante ainda é a românica, mas já começaram a aparecer as primeiras mudanças que conduziram a uma revolução profunda na arte de projetar e construir grandes edifícios.
A primeira diferença que notamos entre a igreja gótica e a românica é a fachada. Enquanto, de modo geral, a igreja românica apresenta um único portal, a igreja gótica tem três portais que dão acesso à três naves do interior da igreja: a nave central e as duas naves laterais.
A arquitetura expressa a grandiosidade, a crença na existência de um Deus que vive num plano superior; tudo se volta para o alto, projetando-se na direção do céu, como se vê nas pontas agulhadas das torres de algumas igrejas góticas.

Rosácea
A rosácea é um elemento arquitetônico muito característico do estilo gótico e está presente em quase todas as igrejas construídas entre os  séculos XII e XIV.  Outros elementos característicos da arquitetura gótica são os arcos góticos ou ogivais e os vitrais coloridíssimos que filtram a luminosidade para o interior da igreja.
As catedrais góticas mais conhecidas são: Catedral de Notre Dame de Paris e a Catedral de Notre Dame de Chartres.

Arcos ogivais

Escultura

Detalhe esculturas da Catedral de Reims. Paris.
As esculturas estão ligadas à arquitetura e se alongam para o alto, demonstrando verticalidade, alongamento exagerado das formas, e as feições são caracterizadas de formas a que o fiel possa reconhecer facilmente a personagem representada, exercendo a função de ilustrar os ensinamentos propostos pela igreja.

Pintura

Expulsão de Joaquim do Templo. Giotto di Bondone. Afresco, 200 x  185cm, Séc. XIV. Cappella Scrovegni (Arena Chapel), Padua
A pintura gótica desenvolveu-se nos séculos XII, XIV e no início do século XV, quando começou a ganhar novas características que prenunciam o Renascimento. Sua principal particularidade foi a procura do realismo na representação dos seres que compunham as obras pintadas, quase sempre tratando de temas religiosos, apresentava personagens de corpos pouco volumosos, cobertos por muita roupa, com o olhar voltado para cima, em direção ao plano celeste.
Os principais artistas na pintura gótica são os verdadeiros precursores da pintura do Renascimento (Duocento ou Pré-Renascimento):

Iluminura

Uma letra "P" capitular iluminada
na Bíblia de Malmesbury, um livro
manuscrito medieval.
Iluminura é a ilustração sobre o pergaminho de livros manuscritos (a gravura não fora ainda inventada, ou então é um privilégio da quase mítica China). O desenvolvimento de tal gênero está ligado à difusão dos livros ilustrados patrimônio quase exclusivo dos mosteiros: no clima de fervor cultural que caracteriza a arte gótica, os manuscritos também eram encomendados por particulares, aristocratas e burgueses. É precisamente por esta razão que os grandes livros litúrgicos (a Bíblia e os Evangelhos) eram ilustrados pelos iluministas góticos em formatos manejáveis.
Durante o século XII e até o século XV, a arte ganhou forma de expressão também nos objetos preciosos e nos ricos manuscritos ilustrados. Os copistas dedicavam-se à transcrição dos textos sobre as páginas. Ao realizar essa tarefa, deixavam espaços para que os artistas fizessem as ilustrações, os cabeçalhos, os títulos ou as letras maiúsculas com que se iniciava um texto.
Da observação dos manuscritos ilustrados podemos tirar duas conclusões: a primeira é a compreensão do caráter individualista que a arte da ilustração ganhava, pois destinava-se aos poucos possuidores das obras copiadas, a segunda é que os artistas ilustradores do período gótico tornaram-se tão habilidosos na representação do espaço tridimensional e na compreensão analítica de uma cena, que seus trabalhos acabaram influenciando outros pintores.
Veja outras iluminuras na web.

Vitrais

Vitrais góticos (conhecidas como "paredes de vidro")

Os vitrais tiveram seu apogeu na arte gótica. As “paredes de vidro” surgiram quando as paredes deixaram de ter função de sustentação, e inicialmente os fragmentos de cores diferentes eram unidos com chumbo, formando as figuras. Nas igrejas góticas, as abóbadas eram apoiadas nos pilares ou colunas de sustentação. Com a utilização desse novo tipo de apoio, as grossas paredes e pequenas janelas da arquitetura românica desapareceram e deram lugar a paredes mais leves preenchidas com grandes vitrais, que proporcionaram uma iluminação peculiar à igreja gótica.
Jesus Cristo na ultima Ceia - Catedral de Chartres - Paris.

Sendo mais trabalhosa que a técnica dos mosaicos, por meio de tiras de vidro, os fragmentos de formas variadas que acompanhavam os contornos de seus desenhos eram bastante adequados ao desenho ornamental abstrato. Todavia, na composição de um mestre o quebra-cabeça das peças de chumbo e vidro conseguia transformar-se em figuras de uma monumentalidade imponente.
Veja outros vitrais na web.